Em 2020, as fintechs mostraram sua resiliência e atraíram mais de US$ 1 bilhão em investimentos. Veja o que pode acontecer no setor em 2021

Alguns desses movimentos de investimentos, combinados com tendências globais e possibilidades que estão sendo destravadas pelo regulador, nos dão algumas pistas do que esperar em 2021. E é isso que vamos explorar a seguir.

Desdobramentos de movimentos iniciados em 2020

Neste ano de 2021, certamente teremos uma aceleração da utilização dos pagamentos digitais, tanto em função da sedimentação de novos hábitos impostos pelo Covid-19, quanto pelo crescimento da utilização do Pix, ao passo que a nova ferramenta é disseminada e ganha escala. A multiplicidade de casos de uso mostra o potencial do Pix em ocupar várias frentes, disputando espaço com diferentes instrumentos, indo desde boletos a cartões e transferências.

Enquanto estudos conduzidos pela Oliver Wyman e Boanerges e Cia prevêem que em 2030 esse meio de pagamento representará em torno de 22% a 24% do mercado (respectivamente), vale lembrar que, na Índia, o sistema UPI (similar ao nosso em vários aspectos) saiu de 1% de representatividade no mix total de pagamentos do país em 2017 para cerca de 24% em 2019 – e isso em uma realidade pré-pandemia. Empresas de telefonia e concessionárias de energia já começam a fomentar o uso da solução, acrescentando-a como alternativa para pagamentos de contas. Contudo, são as varejistas tradicionais, os players do e-commerce e, sobretudo, as PMEs, que terão um papel fundamental no avanço do sistema de pagamentos instantâneos.

Em 2021 devemos ver também mais ensaios no desenvolvimento de novas soluções via Pix. Ainda em 2020, o Banco Bradesco passou a ofertar crédito a partir da utilização da ferramenta, enquanto o Banco do Brasil possibilitou o uso do Pix através do Whatsapp. À medida que o Banco Central liberar mais funcionalidades, como o Pix Cobrança que está previsto para março, teremos um terreno fértil para a criação de outras novas e interessantes possibilidades que deverão ser exploradas por mais participantes do mercado.

No ano que passou tivemos também a criação dos sandboxes regulatórios pela CVM, pela SUSEP e pelo Banco Central. Os sandboxes são ambientes para testes de soluções inovadoras, nos quais os empreendedores aplicam para participar e desenvolvem seus projetos com a supervisão direta do regulador, que flexibiliza requisitos regulatórios no intuito de permitir que suas soluções sejam ofertadas inicialmente para um grupo limitado de clientes, para depois operarem de forma ampla (caso completem o processo com sucesso). O sandbox da SUSEP já está em funcionamento e recebeu diversas Insurtechs que buscam revolucionar o mercado de seguros, como a Pier, Komus, 88i, dentre outras.

As chamadas para projetos nos sandboxes da CVM e Banco Central já foram anunciadas e em breve conheceremos as iniciativas escolhidas. Prevejo que devemos ter entre os candidatos soluções voltadas para tokenização de ativos (aplicando a tecnologia Blockchain para tal), projetos de novas bolsas de valores, iniciativas de hipoteca reversa, dentre outras. As fronteiras do mercado financeiro serão testadas ao longo de 2021, trazendo novos horizontes para empreendedores e usuários.

Falando em Insurtechs, esse é um subsegmento que deve ficar aquecido no país. Em 2020, o mercado presenciou o IPO da Insurtech norte-americana Lemonade (focada em seguros para locadores, locatários e pets) na New York Stocks Exchange (NYSE). Além disso, vimos a Hippo (especializada em seguros residenciais) levantar 350 milhões de dólares e a Metromile (focada em seguros de automóvel por KM rodado) planejar sua estreia na Nasdaq.

Em outras partes do mundo como na Índia, onde há um baixo percentual de pessoas seguradas (assim como no Brasil), o super-app PayTM adquiriu uma seguradora para entrar nesse mercado e a Amazon passou a distribuir microsseguros de saúde e de bicicleta à preços acessíveis. Esses são alguns sinais de que temos muito o que explorar sobre essa tese por aqui, tanto que o Nubank já se movimentou para ofertar esse produto em sua plataforma e a insurtech Pier (seguradora digital para carros e celulares) recebeu 14,5 milhões de dólares em investimentos em novembro de 2020 para expandir suas operações – além de ser uma das empresas participantes do sandbox da SUSEP. Há muito o que ser feito na democratização dos seguros no Brasil e talvez estejamos no timing ideal para fazer isso.

Por Bruno Diniz